Mais da metade dos 42 parlamentares baianos recebeu verbas do chamado orçamento secreto, mecanismo criado durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) que, sem transparência, destinou verbas milionárias de emendas para senadores e deputados federais. Ao todo, R$ 278,91 teriam sido distribuídos entre 23 políticos da Bahia – outros 19 não tiveram acesso –, o que torna o estado o segundo maior receptor dos recursos, atrás, apenas, do Amapá.
Matéria veiculada no último domingo (19/12) pelo jornal O Globo mapeou 290 membros do Congresso – em sua maioria aliados ao presidente – que receberam verbas da “emenda do relator”, nome oficial do orçamento secreto.
Pela Bahia, dois dos três senadores receberam os recursos – Angelo Coronel (PSD), com R$ 47,3 milhões, e Otto Alencar (PSD), com R$ 20,6 milhões, enquanto, segundo o levantamento, Jaques Wagner (PT) não obteve acesso.
Entre os deputados, 21 deles obtiveram fatia dos R$ 3,2 bilhões que conseguiram ser mapeados pelo jornal. Os valores ainda são uma pequena amostra dos R$ 36 bilhões que compuseram as emendas de relator entre 2020 e 2021. Desta forma, há possibilidade de outros parlamentares da Bahia terem tido acesso a parte do montante – e os que já receberam tenham tido acesso a ainda mais verbas públicas.
No estado, a maior parte do orçamento foi destinada a parlamentares advindos de partidos que compõem o Centrão – base de sustentação de Bolsonaro. Alguns destes políticos, à nível estadual, fazem parte do arco de alianças ao governo Rui Costa (PT). Contudo, siglas que são oposição total ao governo federal não receberam nenhum dos aportes mapeados pela matéria – foram os casos de parlamentares de PT e PCdoB.
Das legendas aliadas a Rui, receberam os recursos os deputados Claudio Cajado (PP), Antonio Brito (PSD), Mário Negromonte Jr. (PP), José Nunes (PSD), Charles Fernandes (PSD), Marcelo Nilo (PSB), Paulo Magalhães (PSD), Sergio Brito (PSD), Bacelar (Podemos), Cacá Leão (PP), e Ronaldo Carletto (PP). Estes, porém, embora sejam aliados ao petismo na Bahia, adotam postura independente ou de apoio a Bolsonaro nas votações no Congresso.
Quem também recebeu parte dos recursos foi o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos). Deputado federal licenciado, ele obteve R$ 10 milhões das emendas do relator. Sua suplente, Tia Eron (Republicanos), não consta na lista divulgada pelo O Globo.
RAIO X DO ORÇAMENTO SECRETO
Autodeclarado “BolsoRui”, Jonga Bacelar (PL) abocanhou a maior parte dos recursos: R$ 70 milhões. Na nona colocação na lista da reportagem, ele é o único baiano no top 10 (veja lista completa). Na Câmara, ele só está atrás de Domingos Neto (PSD-CE), do presidente Arthur Lira (PP-AL) e de Wellington Roberto (PP-PB).
No estado, ele é um dos principais pilares da publicidade do presidente. Na última semana, ele acompanhou Bolsonaro em Itamaraju, no Extremo Sul, onde o presidente vistoriou os estragos feitos pelas chuvas na região.
Jonga teve quase o dobro do que foi disponibilizado para o segundo na lista entre os baianos, o senador Angelo Coronel (R$ 47,3 milhões).
Enquanto Jonga joga nos dois times – petismo e bolsonarismo –, os que são 100% oposição ao atual presidente não tiveram recursos disponibilizados para suas bases, a exceção de Marcelo Nilo, que recebeu R$ 4 milhões.
Do PDT, partido de oposição a Bolsonaro, Alex Santana teve para si disponibilizados R$ 10 milhões. Ele, contudo, se aproximou do bolsonarismo, e está em vias de ser expulso do partido.
Os únicos baianos aliados ao chefe de Estado que não constam na lista do O Globo são o deputado/pagodeiro Igor Kannário (DEM) e o pastor Márcio Marinho (Republicanos). Ex-amiga de Bolsonaro, Dayane Pimentel (PSL) também ficou de fora da lista.
Do partido do presidente, José Rocha (PL) também não foi incluído no mapeamento.
CONFIRA ABAIXO O DETALHAMENTO:
QUEM RECEBEU:
1. Jonga Bacelar (PL) – R$ 70 milhões
2. Angelo Coronel (PSD) (senador)– R$ 47,3 milhões
3. Otto Alencar (PSD) (senador) – R$ 20,6 milhões
4. Elmar Nascimento (DEM) – R$ 15 milhões
5. Claudio Cajado (PP) – R$ 14,46 milhões
6. Leur Lomanto Jr. (DEM) – R$ 12 milhões
7. Alex Santana (PDT) – R$ 10 milhões
8. João Roma* (Republicanos) – R$ 10 milhões
9. Adolfo Viana (PSDB) – R$ 9,97 milhões
10. Tito (Avante) – R$ 9,7 milhões
11. Arthur Maia (DEM) – R$ 8,5 milhões
12. Antonio Brito (PSD) – R$ 8,49 milhões
13. Paulo Azi (DEM) – R$ 7 milhões
14. Mário Negromonte Jr. (PP) – R$ 6,1 milhões
15. José Nunes (PSD) - R$ 6 milhões
16. Charles Fernandes (PSD) – R$ 4,2 milhões
17. Marcelo Nilo (PSB) – R$ 4 milhões
18. Paulo Magalhães (PSD) – R$ 3,7 milhões
19. Sergio Brito (PSD) – R$ 3,7 mi
20. Bacelar (Podemos) – R$ 3 milhões
21. Cacá Leão (PP) – R$ 3 milhões
22. Uldurico Jr. (Pros) – R$ 3 milhões
23. Ronaldo Carletto (PP) – R$ 2,19 milhões
*Roma é deputado federal licenciado
QUEM NÃO RECEBEU
1. Jaques Wagner (PT) (senador)
2. Afonso Florence (PT)
3. Alice Portugal (PCdoB)
4. Daniel Almeida (PCdoB)
5. Félix Mendonça Júnior (PDT)
6. Igor Kannário (DEM)
7. Jorge Solla (PT)
8. José Rocha (PL)
9. Joseildo Ramos (PT)
10. Lídice da Mata (PSB)
11. Márcio Marinho (Republicanos)
12. Otto Alencar Filho (PSD)
13. Pastor Sargento Isidório (Avante)
14. Professora Dayane Pimentel (PSL)
15. Raimundo Costa (PL)
16. Tia Eron (Republicanos)
17. Valmir Assunção (PT)
18. Waldenor Pereira (PT)
19. Zé Neto (PT)