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Camaçarí / BA - 24 de Novembro de 2024
Publicado em 10/07/2023 17h42

200 anos de Independência da Bahia: como Salvador resistiu a diversas invasões ao longo da história

O Aratu Notícias, programa da TV Aratu, conversou com historiadores e estudiosos sobre a história da Bahia e o bicentenário da independência da Bahia no Brasil
Por: Aratu Online

Bruna Castelo Branco

No dia 22 de janeiro de 1808, a família real portuguesa desembarcou em Salvador. Mas, antes disso, a cidade, que foi a primeira capital do Brasil e um dos locais mais cobiçados pelos comerciantes, foi invadida diversas vezes por outros navegadores estrangeiros que também queriam um pedacinho do país para chamar de seu.

“A importância de Salvador, desde o século XVI passando ao século XIX, era tão grande, que a cidade foi invadida. Os holandeses estiveram aqui no século XVII. Bahia e Pernambuco eram os principais exportadores de açúcar naquele período. O açúcar era a grande moeda, a grande riqueza. Esse comércio das navegações saindo da América e cruzando a Europa moldava o pensamento econômico naquele período. O mar ditava os caminhos do desenvolvimento”, explicou o historiador Rafael Dantas, consultor especial da TV Aratu para essa série de reportagens sobre o 2 de Julho do Aratu Notícias (AN), que serão exibidas em todos os sábados deste mês. Neste sábado (8/7), o tema do programa foi “A Família Real na Bahia”.

Em 1624, os holandeses vieram à Salvador atrás de açúcar – mas, como detalhou o jornalista e pesquisador Jorginho Ramos, não tiveram sucesso: “Mas, os baianos se uniram e, um ano depois, eles foram expulsos da Bahia. Isso criou um mito muito grande no povo baiano, um sentimento de pertencimento à terra. Isso foi importante, porque era sempre ressaltado: ‘Nós expulsamos os holandeses que chegaram no Brasil’. Em Pernambuco, os holandeses ficaram por 24 anos”.

Mas os holandeses não foram os únicos alvos de revoltas populares nesse período: os portugueses, que nos colonizaram por mais de 400 anos, também causaram bastante sentimento de revolta na Bahia, como ressaltou Rafael Dantas:

“No final do século XVIII tivemos diversas revoltas, inclusive a Revolta dos Alfaiates, em que os quatro condenados, enforcados e depois esquartejados, foram os negros, representantes das camadas menos abastadas. Ou seja, temos um recorte muito claro dessa questão política e dessa questão de punição do século XVIII. As partes dos corpos foram espalhadas pela cidade, nas praças públicas, em prédios de destaque, para servir de exemplo para que isso nunca mais voltasse a acontecer. Isso fica na memória das pessoas. Um acontecimento como esse não desaparece”.

A CHEGADA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA

Devido à invasão de Napoleão a Portugal, a família real portuguesa precisou fugir – e foi para Salvador que eles vieram inicialmente. Naquela época, em 1808, a capital baiana já havia deixado de ser a capital do Brasil, transferida para o Rio de Janeiro em 1763 – e foi lá que a família real se instalou. Anos depois, em 1822, quando o rei português, Dom João VI, já havia retornado à Europa, Dom Pedro I, filho de Dom João, disse que o Brasil estava independente e se proclamou imperador.

Porém, parte dos portugueses que viviam na Bahia e em outros estados do país não aceitaram o novo imperador e decidiram continuar a obedecer o antigo rei. E foi daí que nasceram as guerras pela independência ao redor do Brasil. Aqui, a liberdade aconteceu em 2 de julho 1823.

“Onde houve esse grupo de portugueses que queria continuar obedecendo a Portugal, é que os nativos brigaram contra esses portugueses para expulsá-los. Isso é que foi o nosso 2 de julho, o 25 de julho do Maranhão, o 4 de agosto de Belém”, contou a historiadora Antonietta D’Aguiar.

Como pontua o jornalista e pesquisador Jorginho Ramos, a ideia de Dom Pedro I e das elites era promover uma independência moderada do Brasil. “E a guerra aqui, foi uma guerra de defesa e de conquista. Não é à toa que o baiano é o único povo do Brasil que festeja a independência. Nos outros estados, o que tem são paradas cívicas. Na Bahia, é uma festa que o povo vai para a rua, toma conta das coisas, tem os seus símbolos, seus heróis para cultuar, seu hino para vibrar junto… é o único povo que comemora a Independência do Brasil”.

O PAPEL DO RECÔNCAVO

Sem o Recôncavo Baiano, como analisa Rafael Dantas, a Independência da Bahia não seria possível. “Pensar em Salvador é fazer esse link com as cidades e com as vilas do Recôncavo da Bahia que abasteciam a cidade com os alimentos e com os recursos que faziam o porto de Salvador ser esse grande lugar de entrada ao longo desse período”.

Os saveiros, embarcações icônicas da região, tiveram um papel crucial nas guerras de independência. Naquela época, esses barcos eram os principais transportadores de armamentos, alimentos e informações estratégicas para as batalhas na capital baiana. “Os antigos marinheiros, mestres saveiristas, navegadores dos rios e dos mares, conheciam todos esses caminhos que ligavam o Recôncavo à Itaparica e à Cidade do Salvador. Dominavam cada trajeto, sabiam onde ficavam os bancos de areia e outros caminhos que os portugueses não sabiam. Isso deu uma chance de fôlego maior e estratégia que foram usadas pelos comandantes do Brasil naquele período”, conclui o historiador.

Confira a programação das próximas reportagens especiais sobre os 200 anos de Independência do Brasil na Bahia:

15/7 (sábado), às 19h30, no Aratu Notícias: A Bahia em Guerra
22/7 (sábado), às 19h30, no Aratu Notícias: A Celebração ao 2 de Julho

 

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